terça-feira, abril 11, 2006

«A Ciência e a Matemática não formam cidadãos. Só a Arte o pode fazer. A conclusão é de António Damásio, que refere haver cada vez mais uma distância entre as facetas cognitivas e as emotivas. As afirmações do investigador foram proferidas na sua intevenção na Conferência Mundial sobre Educação Artística, que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, entre 6 e 9 de Março de 2006. O afastamento deve-se, na sua opinião, à ênfase dada a disciplinas como Ciência e Matemática em prol do desleixo para com a Arte. Se a educação mantiver este desequilíbrio, "irá piorar as relações sociais e a criatividade", alerta o investigador, e adianta que "as emoções funcionam como classificadores de acções e ideias. Sem elas servindo essa função, viveremos em pura racionalidade. Este afastamento do cógito à emoção pode levar-nos a indivíduos sem moral".

Damásio salienta também a importância da Educação Artística no desenvolvimento da Economia, baseada em inovação e criatividade - capacidades que as artes desenvolvem.»

"Pontos nos ii"
nº 4, Abril de 2006

Comportamentos


"Sanguessugas? Não te preocupes. Um bocadinho de sangue a menos não te vai fazer falta."


"Statistics of Decision Making in the Leech"
Journal of Neuroscience, Março de 2005

Elizabeth Garcia-Perez, Alberto Mazzoni, Davide Zoccolan, Hugh P. C. Robinson, e Vincent Torre
«Os animais optam continuamente entre diferentes comportamentos, mas, mesmo nos invertebrados, os mecanismos subjacentes à sua escolha e decisão são desconhecidos. Neste artigo, o comportamento espontâneo de sanguessugas foi observado e quantificado durante 12 horas. Obtivemos uma caraterização estatística, nos domínios do espaço e tempo, dos processos de decisão subjacentes à selecção do comportamento. Descobrimos que a distribuição espacial da posição das sanguessugas, num ambiente uniforme, é isotrópico (o mesmo em todas as direcções), mas esta isotropia é quebrada pela presença de estímulos externos localizados. No domínio temporal, as transições entre comportamentos podem ser descritas por um processo de Markov, cuja estrutura (estados e transições admitidas) é altamente conservada entre indivíduos. Finalmente, uma larga gama de padrões recorrentes, determinísticos, foram identificados no comportamento exploratório aparentemente irregular e não-estruturado. Estes resultados fornecem uma rigorosa descrição da dinâmica interna que controla o espontâneo e contínuo fluxo de decisões comportamentais nas sanguessugas.»


Nota: os links para a Wikipédia foram acrescentados pelo Neuroeconomia, não constando do paper.

segunda-feira, abril 10, 2006

Da barbatana à inteligência



mp3 - 6m:22s
Melina E. Hale, professora da Universidade de Chicago, fala sobre as suas investigações acerca do modo como os peixes reagem aos predadores, e de como isso nos pode ajudar a compreender melhor os mecanismos neurológicos dos humanos.

Quem diria que os movimentos das barbatanas poderiam abrir caminho para a explicação do ser humano? Acontece que a simplicidade dos circuitos neurológicos dos peixes facilita a investigação. Afinal, somos ou não descendentes dos peixes?

Documentos relacionados:
  • "Evolution of Behavior and Neural Control of the Fast-Start Escape Response"
  • "Locomotor mechanics during early life history: effects of size and ontogeny on fast-start perfomance of salmonid fishes"
  • "A confocal study of spinal interneurons in living larval zebrafish"
  • "Structure, Function, and Neural Control of Pectoral Fins in Fishes"
  • "Swimming of larval zebrafish: fin-axis coordination and implications for function and neural control"
  • "Functions of fish skin: flexural stiffness and steady swimming of longnose gar Lepisosteus osseus"
  • "Mechanics of the fast-start: muscle function and the role of intramuscular pressure in the escape behavior"

    http://research.uchicago.edu/highlights/resources/media/hale_128k_audio.mp3

  • Adenosina

    Typical recording of an excitatory postsynaptic potential (EPSP) in a hippocampal slice
    "Activation of adenosine A2A receptor facilitates brain-derived neurotrophic factor modulation of synaptic transmission in hippocampal slices"
    Artigo de Maria José Diógenes, Catarina Cunha Fernandes, Ana Maria Sebastião e Joaquim Alexandre Ribeiro, da Faculdade de Medicina de Lisboa, publicado no Journal of Neuroscience de Março de 2004.
    «Tanto a adenosina como o factor neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) influenciam a placticidade neurológica. Investigamos o modo como a adenosina influencia a acção do BNDF na transmissão sináptica da area CA1 do hipocampo de ratos. [...] Conclui-se que a libertação pré-sináptica de adenosina , através da activação de receptores A2A, facilita a modulação de BDNF na transmissão sináptica em sinapses do hipocampo.»
    Maria José Diógenes e Joaquim Alexandre Ribeiro pertencem ao Grupo de Neuromodelação do Instituto de Medicina Molecular, que se dedica ao estudo dos mecanismos envolvidos no controlo da libertação e acção de neurotransmissores, ou seja, das moléculas que funcionam como mediadores químicos da comunicação neuronal.

    Catarina Cunha Fernandes pertencem ao Grupo de Neuroprotecção do Instituto de Medicina Molecular, que investiga os mecanismos moleculares e celulares envolvidos na lesão e protecção de neurónios após vários insultos como, por exemplo, a privação de oxigénio.

    Ana Maria Sebastião é Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurociências e investigadora principal do Laboratório de Neurociências do Instituto de Medicina Molecular.

    domingo, abril 09, 2006

    Alcino Silva

    A revista Pública (suplemento do jornal Público de hoje) inclui uma entrevista de Andréia Azevedo Soares ao cientista Alcino J. Silva, actualmente a trabalhar na Califórnia, na UCLA, onde este investigador fala sobre o seu trabalho centrado na memória.
         «(...) A memória está ligada a uma utilidade, a uma potencialidade. Penso que o mundo é muito menos interessante do que a forma como o vemos. São os cérebros criativos que vêem o mundo com outras "nuances" e as partilham com os demais. O mundo tem a sua aspereza e precisamos desse processo criativo para torná-lo mais ameno. Se [você] muda o seu comportamento diante da realidade, consegue de alguma forma alterá-lo aos seus olhos, e isso exige uma grande dose de plasticidade, maleabilidade.
         Essa é uma das funções mais pujantes da nossa memória. Aprendemos como as coisas funcionam e gravamos os pontos em que falhamos, para fazer melhor da próxima vez. Não memorizamos tudo o que aconteceu exactamente como aconteceu. Por vezes, saber com precisão aquilo que realmente aconteceu não nos ajuda em grande coisa.»
    Alcino Silva dirige o SilvaLab
    Artigos relacionados:
  • "Trafficking in Emotions"
  • "Directing Traffic Along Memory Lane"
  • "Memory and how it fails"
  • "Deficient Plasticity in the Primary Visual Cortex"

  • quinta-feira, abril 06, 2006

    "A Neural Representation of Categorization Uncertainty in the Human Brain"
    Jack Grinband, Joy Hirsch e Vincent P. Ferrera
    Neuron, Vol 49, 2 Março 2006
    «A capacidade para classificar objectos visuais em categorias discretas ("amigo" versus "inimigo", "comestível" versus "venenoso") é essencial para a sobrevivência e constitui uma função cognitiva fundamental. Os substractos corticais que medeiam esta função, contudo, não foram identificados nos humanos. Para identificar as zonas do cérebro envolvidas na classificação dos estímulos desenvolvemos uma tarefa em que os sujeitos classificam os estímulos de acordo com uma fronteira classificativa variável. Foram utilizadas funções psicofísicas para definir uma variável de decisão, a incerteza de classificação, a qual foi sistematicamente manipulada.Usando a tecnologia MRI, descobrimos que a actividade numa rede fronto-estriato-talâmica, consistindo no giro medial frontal, ínsula anterior, striatum ventral e tálamo dorso-medial, era modulado pela incerteza de classificação. Descobrimos que esta rede era distinta das rede de atenção fronto-parietal, que consiste nos campos visuais frontal e parietal, onde a actividade não estava relacionada com a incerteza de classificação.»

    quarta-feira, abril 05, 2006

    Consiliência

    Neuroeconomics: The Consilience of Brain and Decision, artigo de
    Paul W. Glimcher1 e Aldo Rustichini. Publicado na Science de 15 de Outubro de 2004.
    «A Economia, a Psicologia e a Neurociência estão actualmente a convergir para uma disciplina única, com o objectivo último de fornecer uma teoria do comportamento humano única e geral. Trata-se do campo emergente da Neuroeconomia, onde a consiliência - a concordância de duas ou mais induções retiradas de diferentes grupos de fenómenos- parece estar a operar. Os economistas e os psicólogos estão a fornecer ferramentas conceptuais ricas para a compreensão e modelizaçãon do comportamento, enquanto os neurobiólogos fornecem ferramentas para o estudo dos mecanismos. O objectivo desta disciplina é portanto compreender os processos que relacionam sensação e acção, ao revelar os mecanismos neurobiológicos subjacentes às decisões. Este artigo descreve os desenvolvimentos recentes na Neuroeconomia, tanto na perspectiva comportamental como na biológica.»

    Direito e Neurociência

    A edição de Novembro de 2004 da revista "Philosophical Transactions of the Royal Society" (Vol. 359, Nº.1451) é dedicada ao tema do Direito e do cérebro, associando os recentes desenvolvimentos da neurociência ao Direito.
    «Avanços na biologia evolucionista, na economia experimental e na neurociência, estão a lançar uma nova luz sobre questões antigas acerca do bem e do mal, da justiça, da liberdade, da "rule of law" e da relação entre o indivíduo e o Estado. Começa a acumular-se evidência sugerindo que os humanos desenvolveram certas predisposições comportamentais fundamentais, assentes na nossa intensa natureza social, que essas predisposições se encontram codificadas no nosso cérebro como distribuição de prováveis comportamentos e que, portanto, pode haver um núcleo de direito universal humano.»
    Alguns dos temas abordados (primeiros 6 textos disponíveis em linha):
  • "Law and the Brain: Introduction" - Semir Zeki and Oliver Goodenough
  • "For the law, neuroscience changes nothing and everything" - Joshua Greene and Jonathan Cohen
  • "A cognitive neuroscience framework for understanding causal reasoning and the law" - Jonathan A. Fugelsang e Kevin N. Dunbar
  • "Responsibility and punishment: whose mind? A response" - Oliver R. Goodenough
  • "The frontal cortex and the criminal justice system" - Robert M. Sapolsky
  • "The brain and the law" - Terrence Chorvat e Kevin McCabe
  • "How neuroscience might advance the law" - Erin Ann O'Hara
  • "Law and the sources of morality" - Robert A. Hinde
  • "Law, evolution and the brain: applications and open questions" - Owen D. Jones
  • "A neuroscientific approach to normative judgment in law and justice" - Oliver R. Goodenough e Kristin Prehn
  • "A cognitive neuroscience framework for understanding causal reasoning and the law" - Jonathan A. Fugelsang e Kevin N. Dunbar
  • "A cognitive neurobiological account of deception: evidence from functional neuroimaging" - Sean A. Spence, Mike D. Hunter, Tom F. D. Farrow, et al.
  • "The property 'instinct'" - Jeffrey Evans Stake
  • "The emergence of consequential thought: evidence from neuroscience" - Abigail A. Baird and Jonathan A. Fugelsang