terça-feira, outubro 23, 2007

Bocejar e espreguiçar (sem remorsos)

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Na escola ensina-se às crianças, na linha da tradição aristotélica, que dispomos de cinco sentidos. Mas talvez seja de admitir que possuímos um sexto sentido, a interocepção, a capacidade para nos apercebermos de estímulos sensoriais internos ao nosso corpo. O termo interocepção, ou somestesia vegetativa, foi proposto por Sherrington em 1905. Em 1749 Buffon propunha a voluptuosidade como sexto sentido retomando a ideia de Cardan em 1554. Não é a voluptuosidade o resultado de uma interocepção harmoniosa? O mundo animal conhece outros sentidos que nos são estranhos: a electro-recepção, a magneto-recepção e a ecolocalização por ultra-sons. Nós propomo-nos mostrar como o bocejo pertence à interocepção e participa desse modo ao nosso despertar e ao nosso esquema corporal.
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Em resumo, uma ligação fenomenológica aparece entre a capacidade de atribuir um estado mental a outro (TOM - Theory of the Mind, base da empatia) e a ecoquinésia do bocejar. Paralelamente à hierarquia neuro-anatómica que separa a TOM em níveis sensomotores, emocionais e cognitivos (Singer, 2006), a ecoquinésia do bocejar autoriza uma dissociação da TOM, pela sua ontogénese e filogénese, em diferentes níveis de desenvolvimento, sustentados por uma activação diferenciada de circuitos neuronais específicos. A ecoquinésia do bocejar teria concedido uma vantagem selectiva pemitindo uma sincronização eficaz dos níveis de vigilância entre os membros de um grupo social. Ela participaria de uma forma de empatia instintiva involuntária, qualificável como rudimentar, provavelmente aparecida tardiamente no decurso da evolução dos hominídeos.

Olivier Walusinski
"Neurofisiología del bostezar y estirarse: su ontogenia y filogenia"

1 Comments:

Blogger Ana Paula Sena said...

Um facto bem interessante. Pelos vistos, bocejar é importante. :)

1:29 da manhã  

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