quinta-feira, março 30, 2006

Desempenho económico e evolução

"Is There a Link between Economic Outcomes and Genetic Evolution? "
José Borghans, Lex Borghans e Bas ter Weel
«Esta investigação desenvolve uma teoria e apresenta evidência empírica de uma ligação entre desempenho económico e a evolução genética. Importantes propriedades para a análise de tal ligação encontram-se no sistema imunitário adaptativo e, particularmente, no complexo principal de compatibilidade histológica [major histocompatibility complex - MHC], um complexo geneticamente codificado associado à defesa contra infecções.

A teoria incorpora propriedades do MHC num modelo de dependência mútua e exibe uma alternativa [trade-off] na qual qualquer agente que está melhor por possuir uma resposta imunitária diferente dos ouros, é também parte da cintura protectora dos outros numa dada população, na qual atingir respostas imunitárias semelhantes representa a situação óptima. Os dados estão baseados em grande número de amostras de sangue de 63 diferentes populações. A análise inter-regional mostra uma robusta asscociação negativa entre o desempenho económico e de saúde e a diversidade de MHC, e entre as ofertas médias em jogos de ultimato e confiança e diversidade de MHC.

A análise sugere que as sociedades que incorporam externalidades da dependência mútua atingem maior sucesso económico, e que a incorporação de externalidades é evidente ao nível genético.»

"Não é o tamanho: é o processo, estúpido!"



Em artigos publicados nas revistas Nature e Science sugere-se que existe uma relação entre o nível de intelegência dos indivíduos e o modo como se processa o desenvolvimento do cérebro, particularmente durante a adolescência.
«Os últimos resultados, [da investigação] de uma equipa liderada por Philip Shaw no National Institute of Mental Health de Bethesda, Maryland, traz novidades ao debate ao relacionar o "IQ" [quociente de inteligência] com mudanças no cérebro ao longo do tempo, e não com atributos fixos, tais como o tamanho do cérebro. 'Não é que o cérebro das crianças tenha mais massa cinzenta', diz Shaw. 'A história da inteligência está na trajectória do desenvolvimento do cérebro.'»

in Scans suggest IQ scores reflect brain structure

terça-feira, março 28, 2006

Cérebro e evolução



Bruce Lahn, professor do Howard Hughes Medical Institute, investiga a evolução do cérebro (podcast de 1:24 min).
http://research.uchicago.edu/highlights/resources/media/lahn_sciencentral_128k.mp3

Documentos relacionados:
  • "Microcephalin, a Gene Regulating Brain Size, Continues to Evolve Adaptively in Humans" - Science, Setembro 2005
  • "Positive selection on the human genome" - Human Molecular Genetics, Julho 2004
  • "Ongoing Adaptive Evolution of ASPM, a Brain Size Determinant in Homo sapiens" - Science, Setembro 2005
  • Evolution Of Human Brain Hasn't Ceased de Jessica Ruvinsky (Janeiro de 2006):
    «O pensamento humano pode estar, ou não, a evoluir, mas o cérebro está certamente. Bruce Lahn e os seus colegas do Committee on Genetics da Universidade de Chicago anunciaram que pelo menos dois genes activos no vérebro humano evoluiam recentemente.

    «Nitzan Mekel-Bobrov, estudante do laboratório de Lahn e principal autor de dois papers publicados na revista Science, afirma que 'A evolução humana não é estática'. Os genes estudados, designados como Microcephalin e ASPM, ajudam a determinar o tamanho do cérebro. Os genes possuem muitas variantes funcionais, mas uma variante de cada gene é mais comum dos que as restantes.

    «Os investigadores descobriram que essas variantes surgiram há aproximadamente 37 mil anos (para o Microcephalin) e 5.800 anos (para o ASPM) e que a respectiva frequência aumentou rapidamente através da selecção natural. É impressionante que as datas coincidam, respectivamente, com a emergência do simbolismo na Europa e das cidades e linguagem escrita no Médio Oriente.

    «Ninguém sabe se as versões em questão fazem aumentar o tamanho do cérebro, e a relação entre o tamanho do cérebro e a inteligência também não é clara. Nem se sabe ainda se estas variantes são mais comuns nuns lugares do que noutros. Mas se as versões favorecidas dos genes capacitarem as pessoas para terem mais filhos, num abrir e fechar de olhos estarão espalhadas por toda a parte.»
  • "The Gene That Made Us Human", de Zach Zorich (Março 2004):
    «Os cientistas há muito que suspeitam que os humanos desenvolveram grande cérebros porque os seus ancestrais hominídeos tinham que vencer ou iludir predadores, aprender a usar o fogo e desenvolver estruturas sociais complexas. Os hominídeos espertos sobreviveram, enquanto que os estúpidos tinham maiores probabilidades de serem comidos ou de morrerem congelados. Ao longo de milhões de anos, o resultado deste jogo de sobrevivência do mais apto foi o surgimento dos modernos humanos, de grandes cérebros e peculiarmente inteligentes. Agora Bruce Lahn, um investigador biomédico da Universidade de Chicago, descobriu a primeira indicação clara das mudanças genéticas que conduziram a uma rápida expansão do cérebro.»

  • segunda-feira, março 27, 2006



    Podcast de Partha Niyogi, da Universidade de Chicago, sobre como a investigação sobre a aprendizagem da linguagem pelas crianças pode ajudar a programar máquinas verdadeiramente "inteligentes"

    Economia e Neurociência

    "Decisions, Uncertainty, and the Brain: The Science of Neuroeconomics"
    de Paul W. Glimcher

    «A Economia é frequentemente descrita como a rainha das ciências sociais. Mais especificamente, é a econometria e a sua teoria subjacente que coloca a Economia muito acima das ciências sociais. Glimcher pretende transportar o rigor matemático da modelização económica, bem como a teoria subjacente, para a neurobiologia.

    «As neurociências são conhecidas por serem ricas em dados mas pobres em teoria. Glimcher esboça um caminho para desenvolver a tão longamente desejada arquitectura teórica. Evidentemente, não é ele o primeiro a propor uma tal teoria. Existem tantas já propostas que as expressões "de baixo para cima" e "de cima para baixo" se tornaram vulgares entre os pensadores das neurociências. E existem também as conhecidas recomendações de algumas abordagens ecléticas propostas por pessoas como Daniel Dennett e Paul e Patricia Churchland. (...)»

    Recensão do livro
    Human Nature Review 2003 Volume 3: 392-394

    domingo, março 12, 2006

    A cigarra e a formiga

    «Na clássica fábula de Esopo, a formiga e a cigarra são utilizadas para ilustrar duas abordagens, familiares mas diferentes, da decisão humana intertemporal. A cigarra diverte-se durante um quente dia de Verão, desatenta do futuro. A formiga, em contraste, armazena comida para o próximo Inverno. Os decisores humanos parecem estar encurralados entre um impulso para agir como a facilitadora cigarra e a consciência de que a paciente formiga acaba por ganhar a longo prazo.

    Uma linha de investigação em curso, tanto na Psicologia como na Economia, tem explorado esta tensão. Esta investigação é unificada pela ideia de que os consumidores comportam-se impacientemente no presente mas preferem/planeiam agir pacientemente no futuro. Por exemplo, alguém a quem seja colocada a opção entre ganhar $10 hoje e $11 amanhã, pode ser tentado a escolher a opção imediata. Contudo, se lhe pedirem hoje para escolher entre $10 daqui a um ano e $11 daqui a um ano e um dia, a mesma pessoa provavelmente escolherá a quantia ligeiramente protelada mas de montante maior.

    Os economistas e os psicólogos têm teorizado acerca da causa subjacente a estas escolhas dinamicamente inconsistentes. É normalmente aceite que a racionalidade determina tratar cada momento de prototelamento de modo igual, efectuando o desconto de acordo com uma função exponencial. Acredita-se que as preferências impulsivas em contrário são indicativas de avaliações desproprocionadas dos ganhos disponíveis no futuro imediato.

    Alguns autores argumentam que uma tal inconsistência dinâmica nas preferências é provocada por um único sistema de tomada de decisão que gera insconsistências intertemporais, enquanto que outros autores argumentam que a inconsistência é originada na interacção entre dois difeferentes sistemas de tomada de decisão.

    Nós colocamos a hipótese de que a discrepância entre preferências de curto prazo e de longo prazo reflecte a activação diferenciada de sistemas neurais identificáveis. Especificamente, colocamos a hipótese de que a impaciência de curto prazo é accionada pelo sistema límbico, que responde preferencialmente a ganhos imediatos e é menos sensível ao valor de ganhos futuros, enquanto que a paciência de longo prazo é mediada pelo córtex pré-frontal (CPF) e estruturas associadas, que são capazes de avaliar trade-offs entre ganhos abstractos, incluindo ganhos num futuro mais distante.

    Uma variedade de pistas na literatura científica sugere que este deve ser o caso. Primeiro, existe a larga discrepância entre o desconto do tempo pelos humanos e pelas outras espécies. Os humanos, rotinamente, avaliam os custos/benefícios imediatos contra os custos/benefícios que são protelados por prazos que podem ser de décadas. Em contraste, mesmo nos primatas mais avançados, que diferem dramaticamente dos humanos na dimensão do CPF, não se tem observado qualquer envolvimento no protelamento não pré-programado de gratificações que envolvam mais do que alguns minutos. Apesar de algum comportamento animal parecer pesar as comparações relativamente a períodos mais longos (por exemplo: armazenamento sazonal de comida), esse comportamento revela-se sistematicamente estereotipado e indistinto, e portanto diferente da natureza generalizada do planeamento humano.

    Em segundo lugar, os estudos de casos de danos cerebrais provocados por cururgia, acidentes ou ataques, apontam consistentemente para a conclusão de que a lesão do CPF leva frequentemente a comportamentos que são mais fortemente influenciados pela disponibilidade de ganhos imediatos, bem como a falhas na capacidade para planear.

    Em terceiro lugar, a função "quase-hiperbólica" de desconto de tempo, que junta (splices) duas diferentes funções de desconto - uma que distingue rudemente entre o presente e o futuro e outra que faz o desconto exponencialmente e com menor profundidade - tem provado ajustar-se a dados experimentais e forneceu luz a uma larga gama de comportamentos, tais como a poupança de reforma, empréstimos por cartão de crédito e procrastinação.

    Contudo, apesar destas e de muitas outras pistas de que o desconto de tempo pode resultar de processos distintos, pouca investigação tem sido feita até ao presente para identificar directamente a fonte da tensão entre as preferências de curto e de longo prazo.»

    in "Separate Neural Systems Value Immediate and Delayed Monetary Rewards"
    Samuel McClure et al
    Science, vol. 306, 15 de Outubro de 2004