quarta-feira, outubro 18, 2006

Enxaqueca

"Anatomical Alterations of the Visual Motion Processing Network in Migraine with and without Aura"
artigo de Cristina Granziera, Alexandre F. M. DaSilva, Josh Snyder, David S. Tuch, Nouchine Hadjikhani

Notícia no jornal Publico:

     «Pela primeira vez, encontraram-se diferenças na estrutura do cérebro de pessoas que sofrem de enxaqueca. No trabalho, publicado esta semana na revista PLoS Medicine, de acesso livre na Internet, investigadores da Escola Médica de Harvard, nos Estados Unidos, relatam a descoberta de que duas áreas do córtex cerebral são mais espessas em quem sofre de enxaqueca do que em indivíduos saudáveis.
     [...]
     «Não se sabe o que causa exactamente a enxaqueca, mas alguns cientistas pensam que o cérebro das suas vítimas é hiperexcitável - ou seja, algumas células nervosas reagem de forma exagerada quando recebem estímulos do corpo. Isto gera uma perturbação, que causa a aura, dores de cabeça e os restantes sintomas.
     «Para procurar eventuais diferenças no córtex cerebral que pudessem constituir a base anatómica da enxaqueca, os investigadores usaram duas técnicas de imagem por ressonância magnética, um método não invasivo de obter imagens de órgãos internos. Foram analisados 24 pacientes de enxaqueca (12 que sofrem do tipo de enxaqueca com aura e outros 12 do tipo sem aura), além de 15 pessoas saudáveis com a mesma distribuição etária, que serviram de controlo.
     «Foram estudadas duas áreas cerebrais relacionadas com a percepção visual do movimento (conhecidas por MT+ e V3A). Verificou-se que a espessura cortical de ambas as áreas é maior nos indivíduos com enxaqueca do que nos saudáveis. Não foram, no entanto, encontradas diferenças na espessura cortical entre pacientes com aura e sem aura.» [...]

quarta-feira, outubro 11, 2006


Revista Neurology, edição de Outubro de 2006:

  • "Relation between body mass index and cognitive function in healthy middle-aged men and women"
    Investigação acerca da relação entre o Índice de Massa Corporal e funções cognitivas e declínio cognitivo. Investigação realizada em 2.223 pessoas saudáveis, entre 32 e 62 anos. Os investigadores confirmaram que um maior Índice de Massa Corporal estava associado a piores desempenhos cognitivos. Este artigo foi referido pelo Diário de Notícias.

    "Physical fitness and lifetime cognitive change"
    Investigação para testar a hipótese da boa condição física estar associada a um melhor envelhecimento cognitivo. Testadas 460 pessoas que tinham participado no Scottish Mental Survey de 1932. Provada associação positiva. Um QI mais elevado na infância também está associado com melhor desempenho pulmonar na idade avançada.
  • terça-feira, outubro 10, 2006

    Neuro-estética

         «Muita gente está a começar a interessar-se pelo campo emergente da neuro-estética — a tentativa de usar a neuro-ciência para compreender a arte e o comportamento estético.
    [...]
         «A neuro-estética pode ser concebida como fazendo parte de um estudo mais geral da arte e da estética como fenómeno biológico. Sigo outros proponentes neste campo (como Tecumseh Fitch) na designação de bio-estética. O objectivo global da bio-estética é a resposta a três questões básicas — o quê?, como?, porquê? — relativamente ao comportamento estético nos humanos: o que é a arte e a estética?; como é que a arte e a estética surgem do cérebro?; e porque é que esta capacidade cognitiva se desenvolveu nos humanos? A neuro-estética está predominantemente preocupada com a segunda questão.»
    [...]

    Martinskov no blogue BRAINETHICS

    Memorização

    “Neurónios musculados, precisam-se!”…
    Texto de Salvador Massano Cardoso no blogue 4R - Quarta República

     «Tenho seguido com muita atenção o trabalho e a investigação de um notável cientista português, o professor Castro Caldas. O neurocientista revela-nos, graças às novas tecnologias, como funcionam os cérebros dos analfabetos e os que aprenderam a ler em criança. As diferenças são abismais, provando que a melhor aprendizagem deverá ocorrer em momentos certos acompanhando o desenvolvimento cerebral. Agora, e a propósito de um livro sobre o "Desastre no Ensino da Matemática: como recuperar o tempo perdido", foi noticiado que o professor Castro Caldas defende que "o treino da memorização não é uma actividade menor". Depreende-se que o treino da memória é indispensável ao desenvolvimento cognitivo e que se acompanha de um aumento dos neurónios e respectivas ligações. Assim, a velha técnica de “aprender de cor” a tabuada é muito positiva. A notícia não me surpreendeu pelo facto de acompanhar a obra do colega, mas desencadeou uma velha recordação. [...]
          «As técnicas de memorização estendiam-se a muitas outras actividades. Ainda hoje, e não obstante o tempo já passado, ainda recordo muitas coisas aprendidas com esta técnica. Espero que tenha estimulado a produção de muitos neurónios e sobretudo muitas conexões neuronais, porque com a idade muitos vão à vida, e para sobrevivermos no mundo cada vez complexo e competitivo que nos cerca bem precisamos de neurónios bem musculados, caso contrário...»

    Comentário:
         A analogia do cérebro com um músculo faz sentido, mas pode igualmente ser limitativa.
         É sabido que partes do corpo humano que não são usadas tendem a degradar-se e a estiolar, de acordo com uma lógica de economia de meios: se determinado órgão não é utilizado, será um desperdício estar a canalizar energia e outros recursos para a respectiva manutenção e funcionamento optimizado.
         Mas a "ginasticação" do cérebro — com o significado de 'uso regular para fortalecimento' — tem outras consequências que a metáfora do trabalho muscular não esclarece. Por exemplo: a aprendizagem matemática, nomeadamente de funções complexas, parece ter efeitos positivos em outras funções cerebrais, tais como a resolução de problemas do dia a dia, ou de organização profissional. Isto talvez aconteça devido à utilização dos mesmos circuitos e funções cerebrais para tarefas de natureza diversa — o que não é incompatível com a topografia fraccionada do funcionamento cerebral, em que uma dada tarefa recorre a diferentes zonas e funções cerebrais.
         É provável que as dificuldades, observadas por docentes em muitos dos seus alunos, no desenvolvimento de raciocínio crítico (usar uma ferramenta teórica para solucionar um problema diferente daquele em que foi inicialmente demonstrada, ou reconhecer uma questão que foi aprendida, quando a mesma surge sob um ponto de vista ligeiramente diferente) tenham a ver com a simplificação das exigências lectivas na matemática durante o percurso escolar anterior.
         Pode existir aqui um paradoxo cruel: ao dirigir o ensino para uma aprendizagem supostamente mais "humanizada", apoiada no "aprender por si" e com desvalorização dos processos de memorização [veja-se esta entrevista de Nuno Crato] a geração soixante-huitard pode ter provocado o efeito oposto ao pretendido, degradando a produtividade da aprendizagem.