quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Um macaco a guiar um carro

Porque é que a lógica por vezes fica para trás?

«Por exemplo:quando a Liga Nacional de Hóquei e os seus jogadores lutam contra uma tentativa de colocar um tecto nos seus salários e o impasse provoca o cancelamento do campeonato, todos ficam a perder. O que é que terá falhado?

«De acordo com a nova ciência da Neuroeconomia, a explicação pode residir no interior dos cérebros dos negociadores. Não no córtex pré-frontal, onde as pessoas pesam racionalmente os prós e os contras, mas mais no interior, onde nascem poderosas emoções. Imagens do interior do cérebro mostram que, quando as pessoas sentem que estão a ser tratados de modo injusto, se ilumina uma pequena área designada como pequena ínsula, originando o mesmo desconforto que as pessoas sentem, por exemplo, ao cheirarem uma doninha. Isso sobrepõe-se às deliberações do córtex pré-frontal. Com tão poderosas funções na zona primitiva do cérebro, não é de admirar que as transacções económicas ‘dêem para o torto’. "Em alguns aspectos, a moderna vida económica dos humanos assemelha-se a um macaco a guiar um carro", diz Colin F. Camerer, um economista do Instituto de Tecnologia da Califórnia.

«Até recentemente, os economistas contentaram-se em observar as pessoas a partir do exterior. Agora, Camerer e outros, em equipa com psicólogos e neurocientistas, estão a recorrer à técnica designada como imagiologia de ressonância magnética funcional (fMRI) para olhar para dentro da cabeça. É como observar um debate do Congresso em vez de adivinhar o que se está a passar apenas pela observação das leis que são aprovadas.

«A Neuroeconomia, embora ainda seja olhada com cepticismo pelos economistas da "corrente principal", pode ser a próxima grande descoberta neste campo. Ela promete colocar a teoria económica em terreno mais firme, ao descrever as pessoas como elas realmente são, e não como os modelos matemáticos extremamente simplificados supostamente os consideram. Eventualmente poderá ajudar os economistas a conceber incentivos que orientem suavemente as pessoas para que tomem decisões que são no seu melhor interesse a longo prazo, em aspectos que vão desde as negociações laborais até dietas de 401 calorias. Diz o economista da Universidade de Harvard, David L. Laibson, outro investigador de topo: "Para compreender os reais fundamentos dos nosso comportamento e escolhas, temos de olhar para dentro da caixa negra."

«A Neuroeconomia pode igualmente fornecer à Economia um quadro teórico alternativo. Desde o início do século XX que os economistas assumiram maioritariamente que as pessoas possuem um conjunto de preferências estável e consistente, as quais procuram satisfazer. Quando confrontadas com um resultado aparentemente ilógico - tal como o cancelamento da Liga de Hóquei - tentam explicá-lo como sendo o resultado de um processo de decisão racional. Economistas de topo como Gary Becker, Milton Friedman e Ribert E. Lucas Jr., todos eles laureados com o Nobel, têm argumentado que a discriminação, o desemprego e as reviravoltas das bolsas de valores podem ter origens racionais.

«Em anos recentes, a assumpção da racionalidade tem sofrido alguns rudes golpes à medida que os economistas mostram que as pessoas manifestam frequentemente falta de auto-controlo, apresentam visões limitadas e reagem com exagero ao medo de sofrer perdas. Mas até agora estes ataques à racionalidade - desferidos sob o chapéu da "economia comportamental" - parecem ser mais um saco de anomalias do que uma teoria alternativa consistente. Por isso a assumpção da racionalidade tem sobrevivido.

«Mas ao associar o comportamento económico à actividade cerebral, contudo, os neuroeconomistas podem finalmente fornecer o modelo que afaste a corrente principal da economia do seu trono. O novo modelo pode adequar-se melhor à realidade, mas não será tão matematicamente puro - porque o cérebro é um lugar algo confuso, com diferentes partes encarregues de diferentes tarefas.»
(…)

"Inside The Black Box "
BusinessWeek online, 28.Março.2005