segunda-feira, dezembro 04, 2006

"É a genética, estúpido"

     Imoso, o macho de mais "alta patente" da comunidade Kanyawara, no Parque Nacional de Kibale, no Uganda, é um dos exemplos que está a agitar a comunidade dos humanos com a sua "preferência revelada" por acasalar com fémeas mais velhas. Tratando-se da espécie mais próxima, em termos evolutivos, dos humanos, os cientistas colocam agora a hipótese de que a preferência destes últimos por parceiros mais novos seja um "fenómeno recente" em termos evolutivos - veja-se o artigo na revista Current Biology. A explicação para adiscrepância estaria no facto dos humanos estabelecerem relações de longa duração - ao contrário dos chimpanzés. "Amarrados" a uma companhia durante muito tempo, viram-se para gente mais nova...
     Mas este facto também pode servir para lançar alguma luz sobre a natureza de story telling de muita da "ciência" evolutiva actual (e que muitos economistas andam a copiar). Tendo detectado essa tendência dos humanos para acasalar com parceiros mais novos, logo os cientistas concluiram que esse comportamento tinha sido, "evidentemente", seleccionado pelas leis da evolução: parceiros mais novos apresentariam maiores hipóteses reprodutivas, logo a genética valorizou esta opção.
     Num refinamento deste raciocínio, também se concluiu que a preferência dos homens por mulheres com determinadas "medidas" (o famoso rácio cintura/ancas de 0,7 que vem desde a Venus de Milo até Selma Hayek) nada mais seria do que a "preferência (involuntariamente) revelada" dos homens por espécimenes mais jovens e saudáveis, atributos traduzidos nesses indicadores somáticos. Parafraseando o outro: "É a genética, estúpido".
     Como nunca ninguém viu (nem poderia ver) a genética a incorporar este comportamento nos humanos, a hipótese só pode ser especulativa, e não-falsificável.
     Veja-se, como exemplos desta especulação, o recente artigo de Fisher e Voracek, "The shape of beauty: determinants of female physical attractiveness", que analisaram não só o rácio, mas igualmente o efeito de "curvatura". Igualmente interessante é o seu artigo "Success Is All in the Measures: Androgenousness, Curvaceousness, and Starring Frequencies in Adult Media Actresses", que avaliou o efeito de algumas das medidas na excitação masculina.
[encontrei a referência a este tema no blog Mahalanobis.]